quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Sapato do Meu Tio - Impressões.

Fiz essa análise em 2007, quando fui assistir pela primeira vez ao espetáculo no Teatro XVIII.
Remexendo nas minhas gavetas encontrei-o e resolvi dividir com vocês minha opinião.

A peça O Sapato do Meu Tio, parceria de Lúcio Tranchesi e Alexandre Casali na interpretação e direção afinadíssima e muito sensível de João Lima é muito interessante, pois foi construída a partir da técnica de Clown e surpreende por conta da visceralidade dos atores, pelo domínio da técnica e pela poesia contida nas ações.

A peça retrata a história de um velho palhaço mambembe, que sobrevive apenas da arte de representar e convive com o sobrinho, seu aprendiz atrapalhado que faz tudo para conseguir ser como o tio. Mas, certamente o mote da peça não fica centrado nisso: a encenação nos mostra alguns pontos interessantes, como a questão da transitoriedade da vida, do aprendizado que passa de geração a geração e o que eu acho mais importante: a paixão pela arte acima de qualquer obstáculo.

Sem diálogos verbais, tradição dos espetáculos clownescos, a estrutura favorece e muito a interpretação dos atores que realmente dominam o universo clownesco e se destacam, evidentemente.

O cenário é bem simples: uma carroça típica de artistas mambembes está instalada no meio do palco e todos os elementos cênicos de que os personagens fazem uso encontram-se dentro da mesma. Em certo momento, para mostrar a passagem do tempo, a carroça faz alguns movimentos em torno do seu próprio eixo, ponto positivo para a direção que soube utilizar bem esse elemento como efeito de tempo em rotação. Outro momento exemplar diz respeito ao final da peça em que utilizaram um telão com uma imagem ao fundo. Recurso muito interessante que reforça o conceito a ser passado.

A música do espetáculo teve a direção de Jarbas Bittencourt. O instrumento que tem predominância na apresentação é uma clarineta e consegue efetivamente realizar um trabalho excelente, pois a música reforça o efeito clownesco com momentos bem definidos de temas circenses e também com o caráter de transição de tempo, pontuando a ação. Enfim, acho que a música consegue desempenhar bem sua função como elemento de reforço na ação.

A iluminação foi bem resolvida de maneira simples. Os elementos utilizados para a iluminação se integram ao ambiente que é a situação mambembe de dois palhaços em um ambiente natural e externo.

Outro elemento importante a se frisar diz respeito a utilização de elementos circenses, como malabares, patins, pernas-de-pau que compõem a cena. Ótimo efeito no conjunto do espetáculo, já que ele é uma bela homenagem ao universo do palhaço.

Vale a pena conferir esse trabalho, pois tanto artística quanto tecnicamente tem um resultado excelente e bem elaborado. Sinal do apuro e domínio dos artistas e técnicos envolvidos no mesmo.

Parabéns João Lima pela sua sensibilidade e criatividade. Parabéns a Lúcio Tranchesi e Alexandre Casali pelas belíssimas interpretações. Parabéns a todos que assistiram e se emocionaram. Tenho absoluta certeza que ao sairem da sessão vocês carregavam uma nova chama dentro do peito. A vocês que ainda não assistiram, não percam, pois é maravilhoso.

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